Após a nossa conversa, esta é a primeira ideia para uma possível abordagem ao livro, que procura uma forma de traduzir visualmente os conceitos que discutimos, mais do que propor uma linguagem gráfica específica. As imagens que se seguem são esboços, experiências, explorações mais ou menos cuidadas, que nos permitem iniciar este nosso diálogo – um dos muitos que se vão cruzar neste livro.
Rituais de Passagem. Paisagem em Passagem. Serpente. Filmes como processos, não como objetos. Representar as ideias mais do que os filmes. Coletivizar o trabalho. Amigos que se sentam a jogar umas cartas e a beber um vinho. Para dar forma a estas ideias, imaginei uma narrativa visual contínua, onde as imagens – com diferentes escalas e posicionamentos – vão criando uma relação entre si, ora temática, ora formal, dando origem a novas leituras sobre o material, a associações inesperadas, ressignificando os próprios filmes. Estas imagens podem ser fotogramas, fotografias de rodagem, apontamentos em cadernos, imagens de referência ou outras que façam sentido para vocês ou para os autores dos textos.










A essa sequência vão sendo adicionados pequenos apontamentos em texto – excertos que antecipam ideias dos textos convidados, comentários vossos que acrescentam outras dimensões. Lentamente, a imagem desmaterializa-se, transforma-se em texto. A leitura torna-se mais estruturada, mais tradicional. É um momento de pausa para refletir sobre as ideias. Até se retomar um novo fluxo de imagens e reiniciar a viagem.





Esta ideia pode ser materializada numa forma mais orgânica, uma interpretação mais ou menos literal da ideia de serpente; ou assumir uma estrutura mais regrada – aqui numa referência à película. As imagens suceder-se-iam numa lógica de colunas, pontualmente interrompidas por texto, até que este conquista o espaço total da página.





Ambas as abordagens vão de encontro à ideia de diálogos cruzados, de múltiplas vozes que constroem um universo comum. Evocam igualmente a sensação de tempo, um tempo elástico, que se sente de maneiras diferentes, por vezes comprimido e acelerado, por vezes distendido e contemplativo. Pensar um livro como quem pensa um filme.



Como objecto, propõe-se uma reintrepretação do bloco de notas, remetendo para a ideia de processo, de contentor de ideias. Um caderno usado no trabalho de campo por cineastas, mas também por antropólogos, arquitetos e outros pensadores. Ligeiramente maior do que o formato A5 – para que as imagens possam também ganhar alguma expressão – com capa dura, revestida a tecido ou a papel, lombada arredondada e fitilho. Um objeto clássico, mas com uma linguagem gráfica que o transporte para um contexto visual contemporâneo.










Obrigada
Ana